QUEDA DE ÁRVORE REVELA URNAS FUNERÁRIAS MILENARES NO AMAZONAS

Por Redação 14/06/2025 16:09 • Atualizado Há 2 dias
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A queda de uma árvore na cidade de Fonte Boa, no Médio Amazonas, levou à descoberta de sete urnas funerárias de cerâmica contendo ossos humanos com milhares de anos. As peças estavam enterradas em uma ilha artificial construída por povos indígenas da região, revelando práticas funerárias e alimentares milenares.

Foto: Instituto Mamirauá

As urnas foram localizadas por arqueólogos do Instituto Mamirauá em parceria com moradores da comunidade São Lázaro do Arumandubinha. Segundo os pesquisadores, a ilha onde estavam enterradas foi construída com terra e fragmentos cerâmicos, uma técnica sofisticada de engenharia indígena para manter habitações acima do nível das águas durante as cheias.

“Essas ilhas artificiais são estruturas arqueológicas erguidas com material removido de outras áreas, intencionalmente misturado com cerâmica para garantir sustentação”, explicou o arqueólogo Márcio Amaral.

No interior das urnas foram encontrados fragmentos de ossos humanos, restos de peixes e quelônios. Segundo a pesquisadora Geórgea Layla Holanda, os achados indicam que os sepultamentos estavam associados a rituais alimentares. As urnas estavam enterradas a cerca de 40 centímetros de profundidade, provavelmente sob antigas residências indígenas.

As peças, de grande volume e sem tampas cerâmicas visíveis, podem ter sido seladas com materiais orgânicos já decompostos. A descoberta só foi possível graças à iniciativa do morador Walfredo Cerqueira, que procurou o arqueólogo após ver fotos das urnas.

A escavação foi realizada com uma estrutura suspensa a 3,20 metros de altura, construída com madeira e cipós pela própria comunidade. Para transportar as peças até o município de Tefé, foi montado um esquema especial de proteção, utilizando plástico, ataduras gessadas e suporte de madeira.

Análises preliminares sugerem que o material cerâmico pode representar uma tradição cultural ainda desconhecida, com argila esverdeada e faixas decorativas vermelhas. A descoberta reforça a tese de que as várzeas amazônicas foram ocupadas de forma contínua e adaptativa ao longo dos séculos.

“Essa foi uma arqueologia de dentro para fora. Acampamos com a comunidade, seguimos o ritmo deles e aprendemos muito”, concluiu Márcio Amaral.

Foto: Instituto Mamirauá

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