A obesidade é uma condição metabólica crônica que vai muito além da balança. Ela afeta a saúde física, mental e emocional, estando ligada ao desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e depressão. Segundo estimativas recentes, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo já estão acima do peso — o que representa cerca de 30% da população global. E as projeções para os próximos anos são ainda mais preocupantes: até 2025, 31% dos adultos estarão com obesidade, segundo o Atlas Mundial da Obesidade. Nesse cenário, é compreensível o apelo por soluções rápidas. Mas será que o atalho vale o risco?
O Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, vem se destacando como a nova promessa entre os medicamentos injetáveis para emagrecimento. Originalmente desenvolvido para tratar o diabetes tipo 2, ele atua regulando os níveis de insulina e promovendo maior saciedade. O resultado é uma queda no apetite e, consequentemente, na ingestão calórica — o que leva à perda de peso. O problema é quando esse efeito, pensado para um contexto clínico específico, passa a ser utilizado como estratégia primária de emagrecimento em pessoas sem diagnóstico de diabetes ou sem acompanhamento adequado.
E aí vale uma reflexão: o que você busca ao emagrecer? Um número menor na balança ou uma vida mais leve, forte e consistente? Porque emagrecer rápido, sem estrutura alimentar, sem entendimento do próprio comportamento e sem uma base sólida, é como construir uma casa em terreno instável. Pode até parecer eficaz no começo — mas os riscos vêm logo depois. E eles não são poucos.
O uso indiscriminado do Mounjaro pode levar à perda de massa muscular, queda de desempenho físico, reganho de peso com efeito rebote, além de desequilíbrios hormonais, compulsões alimentares e efeitos colaterais como náuseas, constipação e fraqueza. Há ainda impactos psicológicos que surgem quando o paciente percebe que o resultado não se sustenta sem o medicamento. A longo prazo, isso mina a autoestima e gera uma sensação de fracasso — quando, na verdade, o erro estava na estratégia.
O nutricionista Thiago Freitas, referência no assunto, ressalta que um emagrecimento inteligente, sustentável e potente exige acompanhamento profissional, planejamento alimentar, movimento e consciência. E, principalmente, exige respeito pelo seu processo. O que você constrói com clareza e estratégia, ninguém te tira. O que você perde rápido, pode voltar ainda mais rápido. O seu corpo merece mais do que uma promessa passageira — ele merece cuidado, presença e propósito.
Referências:
- World Obesity Federation. World Obesity Atlas 2025. London:
World Obesity Federation, 2025. - GBD 2017 Risk Factor Collaborators.
Global burden of disease attributable to risk factors, 1990–2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017.
The Lancet. 2018; 392(10159): 1923–1994.
DOI: 10.1016/S0140-6736(18)32225-6 - SINHA, Rachel et al. Efficacy and safety of tirzepatide in type 2 diabetes and obesity management. Journal of obesity & metabolic syndrome, v. 32, n. 1, p. 25, 2023.

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